domingo, 12 de junho de 2011

Saber Amar

Se já sei a resposta, nem faço a pergunta. Eu disse, na primeira contração de diafragma da reunião toda. Na sala de espera, a inquisição. Você tá carrancudo. Tem dormido? Não trabalha demais, ok? Precisa cuidar do coração. E então? Então nada. Deixo o prédio e ligo o celular no café da esquina. Uma mensagem sua pipoca dizendo que vai ficar tudo bem.

Se não sei a resposta, faço todas as perguntas. Amar é livrar-se do peso de viver? É o remédio? A redenção? O final? A descoberta de que o samba não morreu? Me diz. Me diz, garçonete que traz meu pingado fervilhando. Amar apenas por cansaço de estar só é trair a si mesmo, né? Será? Eu me pergunto. E fico no ar. Por isso voo na rota desse amor.

A garçonete ajeita os guardanapos com seus olhos incas meio que perguntando: você disse amor? Sim. É quando alguém, feito de som, cheiro, forma e movimento materializa os sonhos presos na garganta. Quem é capaz de resistir? Quem não se deixa vendar os olhos pela própria vontade? Sei que é amor quando não consigo definir o sentimento pela pessoa.

Ela volta pro balcão, com os estampidos jocosos das tamancas ecoando mais perguntas. Mas como, se você só a conheceu há treze dias? Ela nem mora aqui. E a diferença de idade? Mas você a viu pela primeira vez na internet. E tão diferente. Onde tá escrito? Não me parece a pessoa certa. Parece impulso. É, eu sei. Mas eu é que sei.

Depois de tantas pessoas certas que apareceram na hora errada veio ela, a pessoa errada na hora certa. Provocação, utopia, desordem, incomum. A leveza e o peso, o caos e a poesia bebendo no mesmo copo, em harmonia. Esperamos nos prender pra ficar livres e buscar todas as outras coisas. Agora eu começo a dieta. Agora eu vou provar vinhos. Agora eu vou gostar mais das pessoas. Agora vou ao Cristo Redentor ou à pracinha da esquina.

E eu só queria dormir mais horas. Mas seu carinho nas costas com a perna nua enlaçada me sopra as fagulhas. Depois de tanto tempo a realidade supera os sonhos. Antes não conseguia dormir, agora já não quero sonhar. Durmo em paz com a insônia depois de sentir a cara dura se desintegrando com seu olhar ao passo que falo sentimentalismos por impulso.

Fazer o quê? São os impulsos que determinam nosso futuro. Não há erro antes de errar. Não há fracasso se não há escolha. Não há resposta sem pergunta. Não há promessa sem dívida. Olhos vendados. Sem pressentimentos. E o amor não tem erro, escolha, futuro, perguntas. O resto a gente vê depois, quando cair o pano.

Todo romance só vale a pena por sua fascinação, que reside nas coincidências, nos impulsos, na obediência, no senão, na obrigação de reagir a um encontro, na pessoa errada. Atribuir uma resposta, um sentido, uma razão, medir a intensidade, definir o amor, prever o futuro é pretensão de quem sabe amar. Mas não sabe que amar é não saber.

Nenhum comentário:

Postar um comentário